Ser bom não te salva de ser lembrado: a fumaça obscura. Ser bom não te salva de ser lembrado: a fumaça obscura.

Ser bom não te salva de ser lembrado: a fumaça obscura.

28.07.2025

A realidade por trás de alguns de chefs e restaurantes premiados.

A estrela Michelin não compra memória

Você pode servir o melhor prato da cidade.
Pode ter fila de espera.
Estrela no guia. Entrevista em revista.
Mas se ninguém lembra de você três dias depois da experiência…
Você só foi um jantar caro.
Mais um.

É duro, mas pode estar sendo isso.
Ser bom não te salva de ser lembrado.

E ninguém fala sobre isso no universo dos grandes chefs.
Todo mundo fala de técnica, origem do ingrediente, carta de vinhos natural, da luz baixa e da música ambiente.
Mas a pergunta que fica é:
Quem você é na cabeça do seu cliente?

Este texto é bem indigesto para quem acredita que excelência é suficiente.
É pra quem acha que o sabor fala por si.
Talvez só falar não seja suficiente.
 

Quando o restaurante é premiado, mas ninguém lembra o nome

Isso acontece com frequência?
Um casal comendo num lugar incrível.
Luz linda, prato autoral, menu degustação de 10 tempos.
Eles amam a experiência. Até postam nos stories.
No dia seguinte, um amigo pergunta:
— Que restaurante era aquele?

Pausa.
Silêncio.

— Acho que era... do chef que fez um evento com fulano...
E fim.

Isso é real. Digo porque acontece comigo.
Muitas vezes eu tento lembrar nomes de restaurantes que já fomos em viagens, e exatamente isso que me acontece. O fato é que como costumo registrar minhas viagens em videos e minha esposa em fotos e álbuns, eu consigo recorrer a esse recurso.

E a referência genérica de localização, ou de qualquer outra coisa, que de fato não gerou conexão comigo, ou com a história do chefe ou restaurante, e o porque daquilo existir.
Certamente, se houvesse algo nesse sentido, eu lembraria.

Você pode ser aclamado na crítica gastronômica e ainda assim ser um borrão no feed de memória do seu cliente.
Porque a mente do seu público não se impressiona só com sabor. Ela se prende a significado.

ser bom não é suficiente

O ego do chef atrapalha o marketing da casa

Tem uma crença entre chefs fora da curva, ou premiados que é bem amarga:
“Meu trabalho fala por mim.”

Oh, que romântica. Poética. Orgulhosa.
E, na prática, nada inteligente..

Porque o cliente não está no seu mise en place.
Ele não vê o que você corta, mistura, prepara.
Ele só vê o prato. E o prato sem uma explicação mínima, é só... comida.
Boa, talvez excelente, mas esquecível.

A verdade é que muitos restaurantes premiados tratam branding e comunicação como algo menor.
Entregam tudo pra um estagiário do marketing postar um “reelzinho” sem contexto, sem ideia, sem alma.
Ou então contratam agências que fazem “mais do mesmo”:
foto bonita de prato, legenda insossa e hashtag gourmet.

O resultado é aquele de sempre:
Um restaurante que entrega experiência de cinema, mas se comunica como lanchonete de rodoviária… ainda que ela tenha seu valor para quem está viajando.

“Mas a casa vive cheia...” – Por enquanto.

Sim, você pode estar com a agenda cheia.
Mas e daqui seis meses? Um ano?

Quantos restaurantes premiados você conhece que sumiram do mapa?
Que fecharam as portas com fila na porta?

A fama do agora não sustenta o amanhã.
Sem percepção de marca, sem presença emocional, você é vítima da memória curta da internet.

E a culpa não é do público. É sua.

Você tem uma história rica, uma cozinha com identidade, uma jornada como chef que daria um filme.

Mas não conta. Não mostra. Não constrói memória.

Restaurante bom que vira marca inesquecível tem alma na vitrine

Posso citar vários que entenderam esse jogo.

O Noma, por exemplo.
Não é só comida. É discurso. É manifesto. É visão de mundo.

Ou a Osteria Francescana, de Bottura.
Você entra lá e não tá só comendo: tá participando de uma peça de arte, com personagens, trilha sonora e drama.

Esses lugares não apenas entregam um prato.
Eles entregam uma ideia.

E aí sim, o cliente lembra. Fala. Recomenda. Volta.
E até copia.

Não estou entrando no mérito de como isso é feito, se é lobby, se está certo ou errado,
se tem outros elementos além da cozinha, ingredientes e história.
Mas de fato, entenderam.

Caminho pra quem quer mais que estrela: quer história

Quero deixar isso muito claro.

Não tô dizendo que você precisa virar influencer.
Ou que sua comida tem que virar circo.

Mas você precisa parar de achar que o prato basta.

Seu restaurante precisa ter uma voz. Forte. Reconhecível.

Seu chef precisa virar protagonista.
Seu cliente precisa virar fã.

E pra isso acontecer, não dá pra terceirizar tudo.
Tem que ter intencionalidade. Clareza de posicionamento. Domínio do que você quer que lembrem de você.

E isso não se resolve com marketing genérico.
Se resolve com construção de significado. Com consistência.
Com coragem de mostrar o que faz de você… você.
Eu já falei isso outras vezes.

Se seu restaurante some do feed, ele já tá começando a morrer

O que você quer que falem do seu restaurante daqui dois anos?

Que você tinha a melhor (cite seu prato ou ingrediente aqui, seja ele qual for…) da cidade?

Ou que você mudou a forma como as pessoas comem e lembram da sua marca?

A diferença tá no que você constrói entre um serviço e outro.
Na forma como você se posiciona, se comunica, se expõe.
Na maneira como você vira ideia, e não só endereço.
Aqui também é necessário seriedade, constância.

E agora?

Se você chegou até aqui, já entendeu:
Ser bom não basta.
Ser premiado não basta.
Nem fila na porta te garante futuro.

Memória é mais forte que técnica.
Relacionamento é mais forte que venda.
Conexão é mais forte que o ego.

A confiança em você e sua história é o que faz as pessoas, indicarem e falarem de você, de como você faz, e porquê. Gera experiência.

E você pode começar a construir a sua com mais estratégia e menos improviso.

Se quiser saber como, a gente pode conversar.

Talvez a sua história só esteja mal contada.
E contar bem pode ser o que falta pra ela virar referência de fato.

E você? Seu restaurante é lembrado? Ou só elogiado?

Um café quente e uma mente presente.
Renan.

Outros posts